“Direita três, sobre esquerda quatro com esquerda cinco, para direita cinco para atenção esquerda dois menos…” Foi isso que eu ouvi do meu navegador, Felipe Lorenci, antes de vermos o mundo de cabeça para baixo pela primeira vez. Mas vamos ver onde a encrenca começou.
Primeira etapa do Campeonato Brasileiro de Rally 2004, 24º Rally da Graciosa. Eu iria correr em casa, mas mesmo assim as coisas não estavam se encaixando perfeitamente. A equipe estava atrasada para montar o parque de auxílio, que funciona como um “Box” no rally, quando eu saí rumo à Araucária para a realização do Shakedown.
Quinze minutos antes de fazer minha primeira volta no trecho, ainda tinha que pegar meu macacão que havia sofrido uma alteração e instalar um extintor de incêndio no carro. Lógico que me atrasei… Mas o início do Shakedown também atrasou 30 minutos, então foi possível chegar na fila a tempo.
O problema foi que eu estava muito agitado por causa dessas interperes, então fiquei dentro do carro mentalizando o tipo de piso, o pneu que estava usando, etc. Chegou a hora. Eu e o Felipe, que estava navegando a primeira vez em um rally de velocidade, alinhamos para largada: três, dois, um, vai!
Largamos com o objetivo de entrar no clima do rally e fazer pose para foto. Mas não foi bem o que aconteceu. Depois de algumas curvas bonitas veio uma cantada bem rápida: “Direita três, sobre esquerda quatro com esquerda cinco, para direita cinco para atenção esquerda dois menos…” Essa última esquerda dois menos veio como um susto. Fiz o possível para tentar diminuir a velocidade e até consegui fazer a curva. Mas a traseira escapou e bateu no barranco por fora.
O lado direito do carro subiu no mesmo instante e eu, com esperança de endireitar, colei o pé no fundo do acelerador pensando: “não vire, não vire.” Aí comecei a ouvir aqueles barulhos de lata batendo, pedra voando, galho quebrando quando a janela do meu lado escureceu com uma textura de terra que rolou para a frente do carro e crack: Quebrou o para-brisa.
Até aí parecia que havia passado uns três minutos, e somente neste momento que eu me dei conta que havíamos capotado. Mas nem assim eu sentia que estava de ponta cabeça. Parecia que o mundo tinha girado. Foi quando o amigo Ricardo Lopes, da Revista Universo Rally, abriu minha porta e perguntou se estava tudo em ordem. O meu pensamento era que comigo estava tudo em ordem, mas o que ele fazia de ponta cabeça…
Foi só quando ele disse para eu me segurar que ele iria abrir o cinto de segurança que me toquei que era eu quem estava ao contrário. E então senti a gravidade em seu devido lugar.
Todo mundo bem, demos muitas risadas até entender exatamente o que tinha acontecido. Graças ao excelente trabalho da equipe, que conseguiu consertar o carro para o dia seguinte, e aos meus grande amigos Alceu Eilert e Felipe Lorenci, foi possível largar e vencer a categoria.