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Velocidade Média: 7 Km/dia

Acredito que é a melhor maneira de conhecer novos lugares é a bordo de um 4×4. Normalmente procuro paisagens bonitas, cachoeiras e montanhas, de preferência com acesso mais complicado. Como “quem procura acha”, me deparei com uma trilha quase intransponível.

Em minhas pesquisas, ouvi falar sobre o Salto Parati – uma cachoeira no litoral do Paraná, onde o acesso normalmente é feito de barco, pelos fundos da baía de Guaratuba. Mas o grupo off road que eu frequentava, descobriu uma trilha que chegava no mesmo local.

Sábado, 8h da manhã, saímos em 8 veículos de Curitiba para um passeio rápido com direito à um refrescante banho de cachoeira. Mais ou menos 90 km depois, entramos na trilha: uma estrada de terra estreita, mas com piso bom que, pelas informações obtidas, teria aproximadamente 7km. Dobra a direita, dobra a esquerda, passa o pontilhão e… atolou! Assim começou uma sequência de atoleiros que mais parecia um mar de barro.

Baixamos a calibragem dos pneus, colocamos todos os guinchos disponíveis à postos e conseguimos “plantar” 6 veículos ao mesmo tempo. Então, além de usar o motor, começamos a usar a cabeça. Horas se passaram e os carros já tinham tanto barro por fora quanto por dentro. Andávamos na velocidade máxima do guincho elétrico.

O dia foi terminando e levando com ele a claridade. Já com todos os faróis acesos, um guincho pifado e dois pneus furados, surgiu uma pergunta: Continuamos ou voltamos? Alguns segundos de silêncio quando surge uma voz na escuridão: “Vamos pra frente!” Por sorte (ou prevenção) o grupo tinha uma regra: “quando for para um lugar desconhecido leve todo equipamento possível”. Então tínhamos barraca e mantimentos de sobra para passar mais um dia no mato. O problema era em casa… Celulares a postos para explicar que não chegaríamos para o jantar. Um desafio quase tão grande quanto a trilha.

De volta ao trabalho conseguimos andar mais alguns metros antes de termos problemas com as luzes. Um veículo ficou sem bateria, as pilhas das lanternas também não são eternas e os ânimos começaram a se exaltar. Então optamos por montar acampamento e descansar antes que algum acidente aconteça.

Sem iluminação para procurar muito, encontramos uma clareira ao lado da trilha com um barulhinho de água corrente. Pensei até que fosse algum tipo de bica. Improvisamos um pequeno acampamento, reunimos os mantimentos da turma e preparamos um delicioso jantar. (Àquela hora até pedra com alface iria bem…). Passamos algum tempo conversando em volta das barracas, pois um 4×4 pode trazer grandes amizades.

Depois de uma noite de sono, nasce o sol renovando as energias da galera. Saí da barraca, calcei uma bola de barro (que costumava chamar de bota) e parti para o reconhecimento da região. Lembra daquele barulhinho de água? Era um baita rio há pouco mais de 5 metros da clareira… (Puxa como ontem estava escuro!) Com a luz do sol foi mais fácil encontrar o caminho, montar um “trenzinho” e, ainda antes do meio dia, puxar os carros até onde podiam ir. Mais uns 20 minutos de caminhada e a natureza nos apresentou o belo Salto Parati. Tem até uma piscina natural, mas a água é muito fria…

Mergulhamos, curtimos, brincamos e tratamos de comer alguma coisa rápido, pois a volta era pelo mesmo caminho. Curiosamente o retorno foi mais fácil. Atolamos uns 10% menos que na ida e conseguimos sair da trilha ainda no final da tarde de Domingo.

Já na estrada de volta, feliz e cansado, a gente começa a pensar sobre o que aconteceu, como poderia ter se preparado melhor, quantos perigos corremos e coisas do tipo. Então, lembrando o verdadeiro espírito de aventura, alguém pergunta pelo rádio: “Quando é a próxima trilha?”


Artigo enviado para o consurso Across the Amazon – Toyota / National Geographic.